segunda-feira, junho 15, 2009

A primeira vez no trabalho, a gente nunca esquece.


A primeira grande espinafrada do chef, a gente nunca esquece.

Não que seja a primeira vez na vida, houveram várias e de vários graus, tipos, intensidades mas a primeira de cada emprego, chef diferente, essa sim a gente não pode esquecer.
Era sexta, dia dos namorados e a expectativa do massacre iminente estava no ar, o staff estava com olhos arregalados, cozinha a todo vapor e pessoas arrastavam as bolas de ferros em seus pés com rapidez, sim, a calmaria sempre precede a maré e cmo digo, somos treinados a esperar pelo pior e sabíamos - haveriam gritos, desespero, lágrimas e violência prontos para nos pegar assim que o relógio soasse as sete da noite para o jantar e as portas do inferno se abririam sobre nós. Não que não gostamos disso, amamos isso, vivemos para contar para as pessoas os records de público atingido mas tememos o horror desses dias prenunciados.
Enfim, aconteceu antes que previsse - assamos os stincos de vitelo que teríamos mas sinceramente ando tão distraído que nem reparei que eram poucos e que poderiam haver mais no freezer (haviam mais 70), ficamos naquela promessa de que faríamos na quinta mas o restaurante não fechou e não pudemos usar a cozinha para preparar os malditos e assa-los na Sexta de manhã.
Ouvi gritos, estou cortando peixes e sinto os passos duros se aproximando, olhei pelo vidro e ele surgiu, ofegante, vermelho, pronto para estourar uma artéria ou coisa assim. Imaginei em minha cabeça a capa do NP (Notícias Populares) e a manchete em garrafais, "Cozinheiros imcompetentes têm membros decepados" e uma foto de nossa pequena cozinha ensanguentada, abaixo tinha um nota que diria "Chef cozinha braços e pernas em caldeirão". Ele entrou, foi um latido rápido, curto e grosso, e saiu - fizemos os 70 restantes em tempo record, quatro homens correndo, suando, amaldiçoando a vida (não pense que tínhamos razão, não, nós merecemos cada palavra pois estávamos fodendo o jantar do Dia dos Namorados caramba) enfim, apenas entreolhei meu colega de cozinha e ele disse "beber hoje ?" e eu só respondi "MUITO".
Quando chegamos na Padaria para beber, mal conseguíamos falar, quando o garçon perguntou o que eu queria eu queria gritar "vingança", mas me vingar do quê ? Eu estava errado afinal. Mas não ligo pra isso. Nunca liguei, e comparado à muitos lugares que eu trabalhei ou até mesmo, se eu fosse o chef, eu teria mascado a equipe em minha mandíbulas e cuspido porta afora, sim, ele foi um santo mesmo ensandecido.

E a primeira vez te prepara para as próximas (que por mais que evitemos, acontecerão). E como acontecem...

K - Ahhhh

Que lugar é esse mesmo ??

As pessoas me perguntam e estranham quando menciono o nome do novo emprego (sim, troquei) após uma não bem tão sucedida temporada no DD, mas há males que vêm para bem e este certamente é um deles (principalmente em uma área na qual trocamos de emprego mais que de cuecas) mas realmente penso em dar um fincada de pé em alguma coisa, meu instinto nômade ainda me incomoda mas estou tentando ignorar a vontade de pular em um avião para Kuala Lumpur ou qualquer lugar que sirvam drinks com guarda-sóis dependurados no copo. Tudo ilusão aliás, aprendi que quanto mais confortável o cliente, mais desconfortável está o staff. Enfim, o Kaá é o cardápio certo, no lugar certo e com a cara certa - adoro restaurante lotado, não quero mais saber de lugares vazios com garçons de olhos mortiços e a equipe na cozinha parada feito estátuas sem fazer nada além de faxina. Mudanças sempre são boas, não importa o quão pequenas, um corte de cabelo, emprego novo, um acessório pequeno para casa ou carro, minha grande e nova taça de vinho de casa - qualquer coisa serve pra quem está constantemente em casa ou trabalhando, estou aprendendo aos poucos a ter vida social novamente e juro, que vou evitar double-shifts enquanto viver.
Ter vida social, amigos à espera, jantares e bares para se ver é até estranho (custa caro em vários sentidos, pois enquanto todos dormem Domingo, eu trabalho) mas vale o esforço, se vale. Me sinto estranho pois após o navio, e turnos noturnos, ter esse tempo disponível e não saber o que fazer dele é estranho.

Enfim, mudanças são sempre bem-vindas. SEMPRE.
 
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